CANCIÓN POR LA UNIDADE DE LATINO AMÉRICA. PABLO MILANÊS E CHICO BUARQUE

E quem garante que a História
É carroça abandonada
Numa beira de estrada
Ou numa estação inglória

A História é um carro alegre
Cheio de um povo contente
Que atropela indiferente
Todo aquele que a negue

É um trem riscando trilhos
Abrindo novos espaços
Acenando muitos braços
Balançando nossos filhos


terça-feira, 28 de junho de 2011

O QUE É ESTUDAR HISTÓRIA?

Perguntas espontâneas que surgem tanto para quem se interessa pelo curso de História quanto para os que desejam saber as razões que levam alguém a estudar História.
Estudar História não é um privilégio universitário. Mas é na universidade que esse estudo ganha sua forma organizada, sistemática. Estudar História é descobrir e apropriar-se do resultado da ação dos homens no tempo, que se transforma em realidade concreta individual e social.     

Essa realidade, para a História, forma o passado. Esse passado é experimentado – no presente – como algo a ser conhecido, entendido, explicado. Por quê? Para alcançar-se uma compreensão adequada do presente. Para quê? Para entender o conjunto da realidade social humana e projetar a ação presente e futura.
Todo ser humano, de uma forma ou de outra, lida com o passado para situar-se em seu espaço de identidade e no mundo em que vive. O estudante que deseja obter um diploma universitário de História objetiva alcançar uma capacitação profissional que o habilita a investigar o passado de acordo com procedimentos metódicos, com o fito de elaborar narrativa que apreenda, descreva e explique – cientificamente – o passado que é patrimônio comum dele, de sua comunidade e da humanidade. 

O estudante interessado em torna-se um historiador deve estar consciente de que a História é um dos mais antigos saberes constituídos pela civilização. Com a Filosofia e a Literatura (poesia e teatro) a História está presente desde os primeiros momentos da nossa tradição ocidental. O esforço sistemático de compreensão racional do passado, resultando em uma obra escrita, remonta ao grego Heródoto, no século V a.C. No século XIX, com o desenvolvimento de vários instrumentos de pesquisa e de análise do documento, a História ganhou assumiu sua pretensão metódica de cientificidade.

Ao buscar estabelecer os fatores explicativos confiáveis da ação humana no passado, a História ganhou reconhecimento entre as chamadas Ciências Humanas e Sociais. Hoje em dia, a construção do saber histórico tem consciência das variáveis de sua produção, de que dependem a verdade e a objetividade sociais a que se candidata. Assim, os historiadores hoje dedicam-se também às formas de apresentar o resultado de suas pesquisas não só na historiografia, isto é, nas narrativas historiográficas, mas igualmente no ensino e na formação dos novos historiadores. 
A História, por ser científica, dialoga com os demais campos do saber, como a Literatura, a Filosofia, a Política, a Antropologia, a Sociologia, o Direito, a Economia, pois o produto final do trabalho do historiador é um texto científico de múltiplas facetas, uma composição literária, em estilo que permita ser lido com prazer.
Os futuros historiadores, portanto, devem buscar não só a competência em lidar com as fontes documentais e de outra natureza (visuais, plásticas, arquitetônicas, etc.), com a bibliografia acumulada ao longo das tradições e presente nas bibliotecas e arquivos, mas igualmente desenvolver a habilidade narrativa, com o ofício do escritor.
Em particular desde o século XIX, a História desempenha um papel relevante na construção da identidade de várias nações. Assim como cada indivíduo tem uma memória pessoal, cada sociedade constrói uma memória coletiva, cada Estado promove uma “marca” própria.

Certamente, os historiadores estão entre os principais artífices da memória coletiva, responsáveis não só pela constituição de um passado coletivo, nacional, como pela vigilância dos usos e abusos que deste passado possam vir a ser feitos.
Há quem diga que, em função da contemporânea globalização, as histórias nacionais estão em baixa. Não é verdade. Hoje, ao mesmo tempo em que se assiste à mundialização econômica e cultural, verifica-se o recrudescimento das identidades, étnicas, religiosas e também nacionais.
A História, contudo, tem dentro de si várias Histórias. Ela é plural tanto pela diversidade das perspectivas, a partir das quais é produzida, quanto pela riqueza dos temas que aborda. A História pode ser política, econômica, religiosa, das idéias, das mentalidades, dos costumes, da cultura, do cotidiano, das relações internacionais, das regiões, dos municípios, do mundo, antiga, medieval, moderna, contemporânea.

Ela pode ser recortada em diversos ângulos e em diversos períodos. Sem embargo, em todas permanece a matéria-prima básica do historiador: o tempo e a ação humana nele. Os ritmos das ações humanas no tempo não são uniformes. Há um tempo longo, sedimentado, cuja transformação é lenta, como o da geografia ou das mentalidades. Pode-se falar também de tempos intermediários, como os dos ciclos econômicos, dos regimes políticos, das organizações sociais. 

Não se pode esquecer do tempo volátil, curto, o do quotidiano imediato, dos jornais, dos acontecimentos políticos. O historiador, no fundo, é um tecelão de temporalidades. O tecido final: a História, sobre cuja trama temporal se destaca o bordado no agir humano pensado e narrado pelo historiador.

O profissional com formação em História encontra-se tradicionalmente ligado à área do magistério, podendo exercer essa atividade nas escolas de ensino fundamental e médio, no caso de ter alcançado a licenciatura na graduação, ou nos estabelecimentos de ensino superior, quando portador de diploma de pós-graduação. A experiência de pesquisa e a aptidão de realizá-la com qualidade e autonomia são requisitos para a atividade acadêmica em estabelecimentos de ensino superior.
“... Ensinar História é ensinar a fazer História. É impossível ensinar História sem o domínio suficiente de como se dá a produção histórica. Ensinar não se perfaz com transmitir conhecimentos, muito menos informação.      

Nem é o professor mero revendedor de mercadoria disponível no estoque do curso, ou simples executante de um programa de distribuição (facilitada por técnicas didáticas) de noções consolidadas pelo uso. Ao contrário, a reconstrução do próprio processo de pesquisa deve participar, de uma forma ou outra, do processo pedagógico. 
Já se vê que esta perspectiva permite resolver também a falsa dicotomia de objetivos de um curso de História, indeciso entre a formação do pesquisador e do professor: as diferenças existem, é clero, mas são de grau, contexto e organização prática do trabalho, não de natureza.”
Nos últimos tempos, entretanto, os historiadores têm encontrado formas novas de exercer suas competências. Além do ensino e da pesquisa universitária, importantes campos de atuação para o historiador são aqueles ligados aos mais variados tipos de informação: arquivos, museus, bibliotecas, administração pública, perícia técnica (demarcação de quilombos e áreas indígenas, por exemplo) etc.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Corpus Christi: por que se celebra?

A solenidade de Corpus Christi iniciou-se no século XIII. A Igreja percebeu que era fundamental reafirmar a presença real de Cristo, no pão consagrado.  Essa necessidade se aliava ao desejo do homem (e da mulher) medieval de contemplar as liturgias.  Tanto que é dessa época o costume de elevar a hóstia e o cálice de vinho, depois da consagração, para satisfazer a curiosidade daqueles que iam à igreja mais para ‘ver’ o Corpo e o Sangue de Cristo, do que para participar efetivamente da Eucaristia.
Por isso, a Igreja Católica celebra, em todo o mundo, na quinta-feira após a Festa da Santíssima Trindade, que acontece no domingo depois de Pentecostes, a festa do Corpo e Sangue de Deus, popularmente chamada de Corpus Christi.
Foi instituída pelo Papa Urbano IV em 11 de agosto de 1264, para ser celebrada pelos cristãos. 'Esse é o momento de rememorarmos a herança mais preciosa deixada por Cristo, o sacramento da sua própria presença', explica o liturgista, Marcelo Lopes.
Essa herança compreende a missa (obrigatória) e as procissões.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Egito - Livro dos Mortos - Enterro de Nany (NAH-nee)



Murilo Benevides de Oliveira
Faculdade Tecnologia e Ciências EaD


Julgamento de Nany (NAH-nee)
Arqueólogos encontraram esse papiro no enterro de Nany (NAH-nee), uma mulher na casa dos setenta. Ela era uma chantress (cantor ritual) do deus Amon-Rá e é referido como "filha do rei" (provavelmente significa que ela era filha do sumo sacerdote de Amon e rei titular, Pinodjem I). Como era costume durante o Terceiro Período Intermediário, seu caixão e caixas de shawabtis (números de trabalhadores substitutos para a vida após a morte) foram acompanhados por uma figura Osiris oco de madeira, que continha rolos de papiros inscrito com uma coleção de textos que os egiptólogos chamam de Livro de Mortos. O nome antigo era o Livro de Coming Forth by Day. É mais do que 17 pés de comprimento quando desenrolado. As inscrições hieroglíficas foram escritos por um escriba, e as ilustrações foram desenhadas e pintadas por um artista.

A cena descrita aqui mostra o clímax da viagem para o além. Nany está no Hall do Julgamento. Segurando sua boca e os olhos na mão, ela fica à esquerda da grande escala. O coração dela está sendo pesado contra Maat, a deusa da justiça e da verdade, que é representada como uma figura minúscula vestindo seu símbolo, uma pena única de grande porte, em sua cabeça. À direita, Osíris, deus do submundo e do renascimento, preside a cena. Ele é identificado por sua coroa de altura com um botão na parte superior, por sua barba longa e curva, o cajado, e por seu corpo, que parece estar envolto como uma múmia, exceto para as mãos. Às suas costas está pendurada uma menat como contrapeso para o colarinho. Em frente a ele é uma oferta de um conjunto de carne bovina. Cabeça de chacal Anúbis, superintendente de mumificação, ajusta as escalas, enquanto um babuíno - simbolizando Thoth, o deus da sabedoria e da escrita - senta-se na trave de equilíbrio e se prepara para escrever o resultado para baixo . Atrás de Nany está a deusa Ísis, a esposa e irmã de Osíris. Ela é identificada pelo hieróglifo acima de sua cabeça.

Nany tem sido questionada pelo tribunal de 42 deuses sobre seu comportamento na vida. Ela teve de responder negativamente a cada pergunta feita neste exame, muitas vezes chamado a confissão negativa. Exemplos de suas negativas são: Não tenho feito nada de errado. . . . Eu não matei pessoas. . . . Eu não contei mentiras. . . . Eu não fiz o que detesta os deuses. . . . Eu não fiz ninguém sofrer. . . . Eu não fiz declarações falsas no lugar da verdade. Nany nesta cena foi encontradas verdadeiras e, portanto, digno de entrar na vida após a morte. Seu coração não é mais pesado do que a imagem da deusa da Verdade. Anubis diz a Osíris, "Seu coração é um testemunho preciso", e Osiris responde: "Dê-lhe os olhos e sua boca, já que seu coração é um testemunho preciso."

No registro horizontal acima da cena do julgamento, Nany aparece em três episódios: a paleta de adoração divina com a qual tudo é escrito, louvando a uma estátua de Horus e de pé por seu próprio túmulo.
Nany tinha um rolo de papiro com textos segundo o direito que está no Underworld (Amduat) envolto em sua múmia na área em seus joelhos. 

Livro dos Mortos (cujo nome original, em egípcio antigo, era Livro de Sair Para a Luz) é a designação dada a uma coletânea de feitiços, fórmulas mágicas, orações, hinos e litanias do Antigo Egito, escritos em rolos de papiro e colocados nos túmulos junto das múmias. O objetivo destes textos era ajudar o morto em sua viagem para o outro mundo, afastando eventuais perigos que este poderia encontrar na viagem para o Além.

A idéia central do Livro dos Mortos é o respeito à verdade e à justiça, mostrando o elevado ideal da sociedade egípcia. Era crença geral que diante da deusa Maat de nada valeriam as riquezas, nem a posição social do falecido, mas que apenas os atos seriam levados em conta. Foi justamente no Egito que esse enfoque de que a sorte dos mortos dependia do valor da conduta moral enquanto vivo ocorreu pela primeira vez na história da humanidade. Mil anos mais tarde, — diz Kurt Lange — essa idéia altamente moral não se espalhara ainda por nenhum dos povos civilizados que conhecemos. Em Babilônia, como entre os hebreus, os bons e os maus eram vítimas no além, e sem discernimento, das mesmas vicissitudes.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

5.400 anos de história da humanidade

A linha do tempo traz os principais fatos e personagens da história da humanidade desde a invenção da escrita (aproximadamente 3400 a.C.) até os dias de hoje.
Para pesquisar um período histórico, basta escolher a época desejada na barra horizontal -dividida por séculos. Ao rolar a linha do tempo para baixo, os anos correm para o futuro. Rolando para cima, a linha retrocede no tempo.
Para saber mais sobre determinado acontecimento, clique sobre o ícone Leia mais.

até século 6º século 6º até 16 século 16 até 18 século 18 século 19 século 20




Até o século 6º (a.C.)

Primeiro sistema escrito, pelos sumérios, no sul da Mesopotâmia (região entre os rios Tigre e Eufrates, no Oriente Médio) (cultura)
3400(c)
2700(c)
Início da construção de pirâmides no Egito (tecnologia) Leia mais
Comércio marítimo entre Egito e Biblos (atual Líbano) (navegação).
Surgimento das primeiras cidades na China (tecnologia)
2500(c)

2300(c)
Império Acádio unifica cidades-estado da Mesopotâmia (política) Leia mais
Expansão do Império Egípcio até o Oriente Médio (guerra).
Início do uso de metal e cobre no Peru (tecnologia)
População mundial estimada em 28 milhões (demografia)
1500(c)
1200(c)
Decadência do império egípcio (povos)
Surgimento da civilização olmeca no México (povos)
Fenícios desenvolvem o comércio marítimo, no Mediterrâneo oriental (navegação)
David torna-se rei de Israel, com Jerusalém como capital (religião) Leia mais
População mundial estimada em 70 milhões (demografia)
1000
930
Primeiros textos hebraicos (salmos, eclesiastes) (religião)
Primeira versão do épico hindu Mahabharata (literatura)
Surgimento dos poemas épicos Ilíada e Odisséia, atribuídas a Homero (literatura) Leia mais
850(c)
814
Data legendária da fundação da cidade de Cartago pelos fenícios (colonização)
Primeiros jogos olímpicos (costumes) Leia mais
776
753
Legendária fundação de Roma (povos) Leia mais
Sólon começa as reformas da lei ateniense (política) Leia mais
594
586
Chaldean Nebuchadnezzar (Nabucodonosor 2°) invade Jerusalém; israelitas são levados para o cativeiro da Babilônia (guerra)
Gregos colonizam a Espanha (colonização)
Israelitas retornam do cativeiro da Babilônia (povos)
539
509
Proclamação da República Romana (política) Leia mais
Império persa atinge a Índia (guerra)
Pregação de Sidarta Gautama (Buda) (religião) Leia mais
Clístenes proclama a constituição democrática ateninense (política) Leia mais
508
499
Heráclito dá início à filosofia grega (filosofia)
Pensamento de Confúcio começa a se propagar na China (filosofia) Leia mais
490(c)
472
Atenas lidera a Liga de
Delos (povos) Leia mais
Roma se expande pelo Lácio e ameaça os etruscos (guerra)
Império persa em declínio (povos)
450
443
Péricles passa a governar Atenas (política)
Heródoto escreve História (cultura) Leia mais
Invenção do calendário solar na China (tecnologia)
Início da Guerra do Peloponeso (Atenas vs. Esparta) (guerra) Leia mais
Demócrito cria a teoria atômica (ciência)
431
405
Fim da Guerra do Peloponeso, com a vitória de Esparta (guerra)
Sócrates é condenado à morte, em Atenas
(filosofia) Leia mais
399
371
Tebas derrota Esparta e domina a Grécia (guerra)
Roma domina o Lácio, construindo estradas e aquedutos (povos)
Hipócrates desenvolve a medicina (ciência)
Início do reinado de Alexandre, o Grande (Macedônia) (política) Leia mais
336
334
Alexandre torna-se senhor do império persa; seus domínios se estendem até a Índia (guerra)
Morte de Alexandre e desintegração do seu império (povos)
323
284
Inauguração da Biblioteca de Alexandria (norte do Egito), com 100 mil volumes (cultura)
Invenção da catapulta como arma de guerra (tecnologia).
Surgimento da cultura maia na Guatemala. (povos) Leia mais
280
264
Início das Guerras Púnicas, entre Roma e Cartago (guerra)
Começa a construção da Grande Muralha da China (tecnologia)
210(c)
146
Fim das Guerras Púnicas e consolidação de Roma sobre o Mediterrâneo ocidental (guerra)
Budismo se espalha pelo sudeste asiático (religião)
Caio e Tibério Graco iniciam reformas em Roma
(política) Leia mais
133
73
Spartacus lidera revolta de escravos contra Roma (conflito)
Liderados por Pompeu, romanos dominam a Síria e a Palestina (guerra)
63
45
César torna-se ditador romano (política) Leia mais
César é assassinado (política)
44
31
Antônio e Cleópatra se suicidam (política) Leia mais
Otaviano torna-se o único governador de Roma (política)
Otaviano aceita o título de Augusto, marcando o início do Império Romano (política) Leia mais
27
19
Romanos conquistam a Península Ibérica e criam três províncias, entre elas a Lusitânia, atual Portugal (colonização)
Nasce Jesus de Nazaré (religião) Leia mais
6


Até o século 6º (d.C.)

1
Começa a era depois de Cristo, exatamente à meia-noite de 31 de dezembro de 1 a.C. População mundial chega a aproximadamente 170 milhões (demografia).
Morte de Augusto (política).
Tibério torna-se imperador, ficando no poder até 37 (política)
Ovídio escreve Metamorfose (literatura)
14
27
Jesus é batizado (religião)
Jesus é crucificado (religião)
30
37
Calígula torna-se imperador (política) Leia mais
Império Romano sob Nero (política) Leia mais
54
64
Cristãos são acusados e martirizados pelo incêndio de Roma (religião)
Início da diáspora judaica após destruição do templo em Jerusalém (religião) Leia mais
Surge o primeiro evangelho
(S. Mateus) (religião) Leia mais
70
75
Começa a construção do coliseu romano (tecnologia)
Provável data da invenção, na China, do papel (tecnologia)
Erupção do vulcão Vesúvio destrói a cidade de Pompéia, na Itália (desastres naturais)
79
98
Auge da expansão territorial romana. (guerra)
Cristianismo também se espalha (religião)
População mundial: 180 milhões (demografia)
100
132
Surgimento da cultura Teotihuacán, no México (povos) Leia mais
População mundial: 190 milhões (demografia)
200

212
Cidadania é estendida a todos os homens livres do Império Romano (política)
Começo do declínio do Imperio Romano (política)
235


284
Princípio da civilização maia clássica (povos)
População mundial em torno de 190 milhões (demografia)
300


306
Constantino torna-se imperador (política) Leia mais
Edito de Milão legaliza o Cristianismo no Império Romano (religião)
313


320
Início do império Gupta na Índia (política) Leia mais
Bizâncio é reconstruída por Constantino (tecnologia)
324


326
Constantino declara domingo como dia sagrado para os católicos (religião)
Renomeado de Constantinopla, Bizâncio torna-se capital do Império Romano (política)
330

378
Visigodos derrotam o exército romano (guerra)
Teodósio 1° proibe cultos pagães (religião)
391
395
O Império Romano é dividido em dois, Ocidental e Oriental (política) Leia mais
Agostinho publica Confissões (filosofia)
População mundial continua estável, em torno de 190 milhões (demografia)
400(c)
410
Visigodos saqueiam Roma (guerra)
Átila torna-se o rei dos Hunos (política) Leia mais
434
476
Deposição de Rômulo marca o fim do Império Romano (política) Leia mais
Começa a Idade Média
Clóvis, rei dos francos, dá inicio ao reino Merovíngio (política) Leia mais
496
500(c)
Os bretões, sob a liderança do legendário rei Artur, derrotam os saxões, retardando o avanço destes sobre a Bretanha (política)
População mundial em torno de 195 milhões (demografia
)



Fontes: Dicionário Ilustrado Folha, Oxford Encyclopedia of World History,
The Timetables of History (Bernard Grun), http://www.hyperhistory.co

Juventude hitlerista à brasileira

Na Alemanha, Hitler sonhava com jovens que iriam construir o novo mundo nazista. No Brasil de Vargas, crianças cantavam hinos, em boa parte das vezes sem entender seu significado político.
por Ana Maria Dietrich
Arquivo do Estado de São Paulo
Em Presidente Bernardes, cidade do interior de São Paulo, crianças da Juventude Hitlerista fazem a saudação Heil Hitler, na década de 1930
É por meio da juventude que começarei minha grande obra educacional. Nós, os velhos, estamos gastos. Não temos mais instintos selvagens. Mas minha esplêndida juventude! Nós temos uma das mais belas do mundo. Com eles, poderei construir um mundo novo! Adolf Hitler

Em diversos momentos, Adolf Hitler se voltou às crianças e jovens alemães. Ele acreditava que representariam o futuro da raça ariana, porque os adultos já estariam "velhos" e "gastos". Para cooptar os jovens a se tornarem "bons nazistas", o estadista, que permaneceu no poder na Alemanha entre 1933 e 1945, não poupou esforços. O primeiro passo foi a padronização do ensino secundário e a introdução de novas disciplinas de eugenia e ciência racial. Ao estudá-las, as crianças aprendiam, entre outras coisas, que não poderiam se miscigenar com os considerados "não arianos".

Práticas como atividades físicas - que chegaram a ocupar cinco horas do dia dos estudantes em 1938 - foram introduzidas, contrastando com o desprezo pelas atividades intelectuais e a queima de livros considerados prejudiciais ao regime. Fotos de Hitler estavam nas escolas e os professores entravam na sala cumprimentando os alunos com a saudação Heil Hitler.

Além das escolas, Hitler criou, em 1926, uma organização voltada para jovens e crianças, meninos e meninas. Funcionando como braço do partido nazista, a Hitler Jugend (Juventude Hitlerista), cujas atividades iam desde acampamentos com fogueiras e entoação de hinos até treinamento militar, chegou a ter, no seu apogeu, 8 milhões de membros. As meninas se alistavam na BDM (Bund Deutscher Mädel - Liga das Jovens Alemãs) e aprendiam seus deveres de futuras "mães e mulheres arianas" em tardes domésticas, de eventos esportivos e de patriotismo.
Bundesarchiv/Alemanha
Rapaz da juventude hitlerista da Alemanha cuida de bebês
A americana Susan Campbell Bartoletti contou a história desses pequenos soldados de Hitler no livro Juventude Hitlerista, a história dos meninos e meninas nazistas e dos que resistiram, recém-lançado no Brasil pela Relume Dumará. Segundo Campbell, essa organização foi estruturada de maneira a funcionar como um exército. Havia regimentos e uma hierarquia: o garoto que ingressasse como recruta poderia chegar a liderar um esquadrão, um batalhão e até um regimento. A disciplina era rígida e quem a desobedecesse recebia castigos, como caminhar por horas em rios gelados. Para poder vestir o uniforme marrom da Hitler-Jugend (HJ), porém, os ingressantes deveriam, em primeiro lugar, provar que eram descendentes de "arianos", que estavam saudáveis e não tinham doenças hereditárias. As crianças judias foram impedidas de entrar e o mesmo acontecia quando os pais da criança não eram considerados "bons nazistas". Campbell afirmou que, "não querendo ser excluídas, as crianças imploravam para os pais entrarem no partido nazista". Os jovens que se negavam a participar tornavam-se marginais e dessa forma ficavam impedidos de entrar nas escolas e conseguir emprego.

Muitos jovens chegaram a perder a vida em nome da organização. No início do governo nazista, as brigas de rua com os comunistas eram freqüentes. Em uma delas, Herbert Norkus, jovem alemão de 15 anos participante da HJ, morreu e se tornou mártir do regime. Já durante a Segunda Guerra Mundial muitos deles foram lutar nas frentes de combate alemãs. Eram convocados como ajudantes de artilharia ou como cavadores de trincheiras. "Os meninos trabalhavam dez horas por dia, sete dias por semana. Cavavam até as mãos ficarem calejadas (...)", contou Alfons Heck, ex-integrante da Juventude, um dos entrevistados por Campbell.

Próximo do final da guerra, foi criada uma unidade especial - denominada HJ-SS, cujos participantes receberam treinamento especial para participar do conflito. Tal unidade, apelidada pelos Aliados Divisão Leite de Bebê, lutou nos campos da Normandia em 1944. Em combate, morreram 1.951 soldados, entre meninos e jovens, e 4.312 ficaram feridos.

Minha pesquisa de doutorado aborda a Juventude Hitlerista estabelecida no Brasil. Esse movimento era ligado ao partido nazista no Brasil, que por sua vez era um braço do movimento nazista internacional da Organização do Partido Nazista no Exterior conhecida pela sigla A.O., do seu nome em alemão, espécie de departamento do III Reich. Essa organização estendeu-se pelos cinco continentes, em 83 países, com cerca de 29 mil componentes. Nesses territórios, os nazistas criaram seus grupos, articularam suas bases e estruturaram suas organizações, entre elas a da Juventude. O Brasil foi o país que contou com o maior número de filiados do partido nazista fora da Alemanha - com 2.900 membros espalhados entre 17 estados brasileiros.

Entre eles, o maior grupo foi o de São Paulo, com 785 membros, seguido por Santa Catarina, com 528, e Rio de Janeiro, com 447.
Acervo A.M Dietrich
Adepto do nazismo, com os netos. Presidente Bernardes, década de 1930
Nazismo tropical
Como organização ligada diretamente a esse partido, a HJ no Brasil teve a adesão de 550 meninos e meninas alemãs e descendentes, que foram seduzidos pelo discurso do regime nazista. Apesar de ter como parâmetro o movimento alemão, o nazismo avançou no Brasil de forma diferenciada. Participantes da comunidade alemã - que somava 230 mil pessoas, entre alemães de nascimento e descendentes -, os meninos e meninas não conheceram a atmosfera de terror vivenciada por seus conterrâneos na Alemanha - definida, em um primeiro momento, pela luta contra os comunistas e, em um segundo, pela deflagração da Segunda Guerra Mundial. Nesse processo de transferência, foi como se a ideologia nazista passasse a se vestir com as cores da sociedade brasileira.

Aqui os preceitos nazistas eram passados às crianças e jovens por meio da família e, principalmente, pela educação nas escolas. Estima-se que na década de 30 existiam cerca de 1.260 escolas alemãs no país, com mais de 50 mil alunos. Todas elas contavam com subsídio do governo alemão e algumas haviam sido fundadas ainda no século XIX. Desde a ascensão de Hitler ao poder, as escolas passaram a ser vistas como importantes centros de difusão dos ideais nacional-socialistas.

Até o começo do Estado Novo (1937-1945), tais escolas funcionaram normalmente, sem preocupar o governo, já que ajudavam na educação dos jovens, desonerando as escolas públicas. Porém, a partir de 1938, com a campanha desencadeada por Vargas, que obrigou todas as instituições estrangeiras a se nacionalizar, as escolas alemãs passaram a ser vigiadas. O governo estabeleceu a nacionalização integral do ensino primário. Novas leis do período de 1938 a 1942 restringiram cada vez mais a difusão de valores de outras culturas em território nacional.

O partido nazista e as instituições ligadas a ele entraram então para a ilegalidade. Até essa época, o governo tinha feito vistas grossas à atuação do partido, dadas as boas relações comerciais entre o Brasil e a Alemanha e a simpatia do ditador brasileiro pelo regime de Hitler. Os partidários do nazismo e os alemães em geral foram perseguidos somente depois de 1942, quando da entrada do Brasil na guerra, ao lado dos Aliados. A questão estava centrada no combate à cultura germânica - elemento de erosão da nacionalidade brasileira em construção - e não ao nazismo - enquanto "ideologia exótica", como a chamava o Dops - Delegacia de Ordem Política e Social.

No caso da cidade de São Paulo, vários foram os colégios enquadrados como foco de disseminação de idéias consideradas nocivas à nação brasileira, entre elas a nazista, no final dos anos 30. Em instituições como a Deutsche Schule, mais conhecida como Escola Alemã de Vila Mariana, uma das mais vigiadas pelo Deops - Departamento Especializado de Ordem Política e Social, de São Paulo, boa parte dos educadores era ligada à Associação dos Professores Nazistas, com 100 filiados no Brasil, e alguns vinham direto do III Reich para doutrinar a juventude local.
Nessa escola não era raro os professores alemães ministrarem aulas usando o uniforme cáqui com a suástica atada ao braço. No início do dia letivo, era comum os alunos se cumprimentarem com a saudação Heil Hitler, como era usual na Alemanha. As disciplinas eram ensinadas em língua alemã e o português era apenas mais uma aula na grade curricular. A acusação mais constante por parte da polícia política era que as famílias e a escola não imbuíam as crianças de familiaridade com a cultura brasileira, mas sim incentivavam o germanismo atrelado à doutrina nazista. Grande parte dos alunos era agremiada na Juventude Hitlerista instalada no Brasil, que cantava os mesmos hinos e propunha as mesmas atividades da similar alemã.

O livreto oficial da Deutsche Schule continha fotografias de alunos e de interiores da escola, além de referências ao uso de material didático e, em especial, aos filmes sobre a Alemanha. Parte desse material era importado de lá e tinha como principal objetivo manter viva a relação dos pequenos alemães e descendentes com a cultura germânica. O livro de canções alemãs apropriadas pelo nazismo, chamado Liederbuch, dava o tom do nacionalismo alemão que se cultivava.

O mapeamento feito pelo Deops constatou que havia 14 escolas alemãs na capital e no ABC paulista. Depois da nacionalização de 1938, foram fechadas ou enquadradas na lei. A Escola Alemã de Vila Mariana passou a chamar-se Ginásio Benjamin Constant e teve seus professores alemães substituídos por brasileiros.

O que foi transmitido a essas crianças limitou-se ao aparato de sedução do regime - símbolos, canções, livros. Em grandes festas, eles desfilavam portando bandeiras com a suástica e cantando hinos nazistas, participavam de excursões e acampamentos, mas conviviam normalmente com crianças tachadas como "inferiores" pela ideologia nacional-socialista.

Do lado dos brasileiros, a raça ariana foi até motivo de zombaria. Em um samba de 1943, Carlos Cachaça cantou, fazendo referência ao nazismo: "Saibam que este céu, este mar, este lindo cenário, temos a defendê-lo os nossos expedicionários, oriundos da raça de Caxias, de Barroso. Diante desta gente tão pura e tão forte, nazista, quem és?".
Acervo A. M Dietrich
Grupo nazista da cidade de Presidente Bernardes posa em uma plantação
A Juventude Hitlerista de Presidente Bernardes, pequena cidade do noroeste do estado de São Paulo, é um exemplo da forma como essas idéias nazistas foram transferidas para o Brasil. Nos anos 30 e 40, o local era um pólo de chegada de imigrantes de toda a Europa. Muitos desses imigrantes vinham, desde o porto de Santos, em carros puxados por bois e carregados com produtos tropicais. O destino? Fazendas, sítios e chácaras. Construíam suas casas, muitas vezes de barro e sapé, e plantavam o que comer: arroz, feijão e milho. Um modo de vida muito diverso do que estavam acostumados na Europa. Entre essas famílias, encontravam-se os imigrantes alemães que aderiram ao nazismo, como a família de K.B. (os nomes são aqui mantidos em sigilo para preservar os depoentes). Em entrevista, ela contou a saga da família desde a saída da Alemanha em crise da República de Weimar (1919-1933) até o envolvimento com o nazismo.
Arquivo do Estado de São Paulo
Grupo de nazistas fardados em sítio no interior de São Paulo. As marcações à caneta feitas pela polícia política buscavam identificar os indivíduos
Álbuns de família
K. B. foi membro da Juventude Alemã de Presidente Bernardes. Seu pai, G.B., era dirigente do partido nazista em São Paulo. No acervo do Deops, encontram-se muitas fotos apreendidas de álbuns de família como a de K.B., onde se vêem grupos de nazistas em meio a palmeirais e parreiras. Porém ao ouvir essas histórias, tem-se uma nova dimensão de como foram difundidas as idéias nazistas aqui. Elementos como o anti-semitismo ou racismo corrente na Alemanha não aparecem no discurso de K.B. Ao contrário, o que há é algo mais romantizado, com colonos comemorando festividades do calendário alemão e cantando hinos usuais no III Reich."Por que não gostar de judeus? Eu não conheço nenhum. (...) Eu era criança naquela época e não tinha condições de entender nada. Eu só comecei a entender mais tarde, quando li sobre o assunto. Mas não acreditava, porque meu avô era um santo homem", afirmou K.B.

K.B. se referiu ao seu avô F.D. como "um nazista fanático que amava sua família". Costumava acordar todos os dias de manhã bem cedo e ensinava-as a fazer ginástica, a marchar e a cantar hinos nazistas. O que para K.B. era algo ingênuo e saudável na verdade fazia parte do preceito nazista de culto ao corpo. Os membros da Juventude Hitlerista na Alemanha costumavam fazer esporte todos os dias e participar de treinamentos militares.

Ao descrever esses costumes, K.B. fez questão de enfatizar o lado bondoso do avô: "Ele fazia brinquedos para a gente. Nos dias de festas alemãs, por exemplo Festa da Colheita, costumávamos cantar e marchar atrás dele. Lembro até hoje [cantando em alemão o hino de Horst Wessel]: \\'Levanta a bandeira, as fileiras bem unidas e marcha com passos calmos e firmes\\'. Só lembro de um momento em que ele ficou meio espinhento, foi quando a Inglaterra entrou na guerra...".

Este trecho da entrevista demonstrou que essas crianças repetiam meramente idéias ensinadas pelos adultos, sem ter noção do conteúdo ideológico das canções. Além dos depoimentos, as fotos são importantes testemunhos. Mostram, por exemplo, como os nazistas no Brasil se vestiam, utilizando as mesmas insígnias e simbologia que os nazistas na Alemanha.E.G., outra entrevistada de Bernandes, lembrou-se da mudança de tratamento em relação aos alemães a partir de 1942: "Enquanto nós estávamos aqui com Getúlio do lado do Eixo não teve problemas. Depois, quando Getúlio resolveu passar para o outro lado - por bons motivos - começaram a perseguir alemães, japoneses, todo mundo. Mas os partidários continuaram fazendo as mesmas coisas, vestindo uniformes, usando suásticas e ia todo mundo para o xadrez. Eles sabiam disto, então provocavam, cantando hinos nazistas a caminho da prisão". Quanto às crianças, K.B. recordou as humilhações que sofreu na escola: "Porque eu era alemã, meus colegas de classe caçoavam de mim, puxavam minhas tranças".

A triste realidade da Juventude Hitlerista não está tão distante da realidade atual do Brasil e do mundo. O conhecimento desse capítulo da história serve para refletirmos sobre os rumos que a sociedade assume nos tempos atuais e tomarmos providências enquanto há tempo.
Ana Maria Dietrich é historiadora e jornalista. Doutora em história social pela Unversidade de São Paulo, é autora do livro Caça às suásticas - O Partido Nazista em São Paulo (Imesp)
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